OLIVEIRA DO BAIRRO - Memórias de Um Século
PREFÁCIO
Foi com
um enorme prazer que me lancei nesta árdua tarefa e posso afirmar que me sinto
sobejamente recompensada, pois, muito me enriqueceu, não só a pesquisa, mas,
acima de tudo, o contacto directo que tive de estabelecer com tantas pessoas. Para
compilar este livro, gastei muito tempo
em pesquisas, procurei, rebusquei, escoldrinhei muita coisa. Comecei em
mim a procura; tenho guardada num cofre forte, ainda que vulnerável, - a
memória – o que vi, ouvi e vivi desde menina.
Não foi
há muito que comecei a fazer esta reserva, porém, ela é já grande, dado que bem
cedo, ao tomar contacto com o meu semelhante logo me apaixonei por tradições,
lendas, hábitos, costumes, enfim, tudo o que fazia parte do dia-a-dia das
nossas gentes e lhe era peculiar.
Nunca deixei
que a vida passasse por mim; sempre gostei de fazer parte integrante dela, de a
viver e saborear.
Guardo e
estimo o que vivi, sem, no entanto, me deixar parar no tempo. Tenho o passado
como base para o presente e projecto para o futuro. Na minha óptica os tempos
não podem ficar separados por diques, eles foram e deverão ser a continuação
uns dos outros.
Dói-me,
dói-me muito, ver como a sociedade actual deixa apagar, perder a identidade, a
cultura de seus antepassados que deveria ser qual cordão umbilical ou raiz que
ligasse uma geração às outras, alimentando os mais novos.
Queimam,
destroem, apagam, matam, esquecem. Como querem fazer nova sementeira se jogam
fora as sementes, por inúteis? Algumas cairão em terreno bom, porém, a maioria,
perder-se-á entre pedras e espinhos.
Tentarei
cultivar, amparar as sementes que porventura perduraram; urge fazer novas
sementeiras, ensaiar híbridos talvez, mas, para isso, é preciso ter os
espécimes.
Para que
tudo não se triture e suma na máquina implacável do tempo, farei o registo
escrito da minha memória e da de muitos outros que comigo colaboraram,
nomeadamente meus pais onde bebi, não só o leite de minha mãe, mas também, a
vida e a sabedoria.
A transmissão
oral dos valores e tradições é lamentavelmente, cada vez menor. Parece-me
chegada a hora de tentar inverter esta marcha do esquecimento que cerceia sem
dó nem piedade as raízes, não deixando nenhum elo-de-ligação entre avós e
netos.
Se aqui
houver um corte radical, os vindouros nunca poderão fazer uma análise da vida
de seus antepassados, discernir entre o bem e o mal que fizeram, conhecer o que
de bom povoou as suas vidas e que, quiçá, lhes poderia servir de base para
novos ensaios, novos e diferentes voos, ou tão só e apenas de lenitivo para os
males da modernidade.
Mas vamos
ao que importa.
Vamos recuar
um pouco no tempo até onde chegava a memória de meus pais e seus contemporâneos
e fazer uma viagem a um passado não muito longínquo; apenas o bastante para
começarmos lá pelo princípio do século e virmos caminhando de mãos dadas até
aos nossos dias.
Vou falar
da Bairrada, mais especificamente, do concelho de Oliveira do Bairro e sua
situação geográfica.
Vou reportar-me
à sua fundação, mencionando algumas datas mais importantes; farei um pequeno
historial baseado em alguns dados bibliográficos que recolhi.
Mencionarei
todas as freguesias que actualmente fazem parte deste concelho, escrevendo
sobre cada uma delas algumas notas de relevo.
Recordarei
o início do ensino oficial, a construção das primeiras escolas primárias, bem
como o primeiro foco de ensino secundário e seu desenvolvimento. Relatarei alguns
usos e costumes do nosso povo, das sua tradições, do seu modo de trajar, de se
alimentar, de se divertir e de chorar os seus mortos.
Falarei das
épocas festivas ao longo do ano, das suas festas e romarias. Dissertarei sobre
movimentos das populações, suas causas e consequências.
Apresentarei
notas sobe a saúde e sobre algumas das actuais instituições.
Contarei
um pouco do passado por vezes comparado com o presente, fazendo votos de um
futuro próspero, apresentarei retalhos da nossa vida, da vida das nossas
gentes. Finalmente farei um curto registo de alguns factos vistos com olhos de
apego à nossa terra, suas tradições, usos costumes, sua história e seu
desenvolvimento… serão enfim umas leves pinceladas que irão lançar um pouco de
luz e cor num passado que é nosso e queremos que não se apague mas sim se
projecte através do futuro. Procurarei expressar-me numa linguagem simples,
usando por vezes até termos populares, hoje quase caídos em desuso.
Pretendo
desta forma chegar à grande massa populacional das nossas terras a quem este
livro é especialmente dirigido.
Que me
perdoem os eruditos se, com tanta simplicidade os escandalizar.
Neste livro
vós ireis
Ao redor de uma
fogueira
Ouvir histórias
de reis
No remanso da
lareira.
Recordar nossas
avós
Escrevendo com
uma pena.
Com seu
cabelo em to tós
Indo ao
Domingo à novena.
Ireis com
vossa criada
Enfeitar um
pavilhão
Ao baile e à
tremoçada
Na tarde de
S. João
.
Lembranças de
vossos pais
Com viagens
ao passado
Tudo isto e
muito mais
Vai ser aqui
recordado.
O presente
que viveis
O que sois, o
que comeis
O que tendes
e tereis
Tudo aqui
encontrareis.
Porém não nos
quedaremos
Pró futuro
partiremos
Pois amanhã
nós seremos
O projecto
que escolhemos.
Neste preciso
instante
O livro já
está pronto
É relato
emocionante
Tudo aquilo
que aqui conto.

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