OLIVEIRA DO BAIRRO - Memórias de Um Século


Neste livro, monografia, com capa, ilustrações e fotografias da autora editado em 1994, AIDA VIEGAS pretendeu mostrar o pulsar da vida do seu Torrão Natal, através do registo de certas vivências, sendo seu propósito prestigiar sua terra e suas gentes contribuindo com sua escrita para a história do seu Concelho.


PREFÁCIO

Foi com um enorme prazer que me lancei nesta árdua tarefa e posso afirmar que me sinto sobejamente recompensada, pois, muito me enriqueceu, não só a pesquisa, mas, acima de tudo, o contacto directo que tive de estabelecer com tantas pessoas. Para  compilar este livro, gastei muito tempo em pesquisas, procurei, rebusquei, escoldrinhei muita coisa. Comecei em mim a procura; tenho guardada num cofre forte, ainda que vulnerável, - a memória – o que vi, ouvi e vivi desde menina.
Não foi há muito que comecei a fazer esta reserva, porém, ela é já grande, dado que bem cedo, ao tomar contacto com o meu semelhante logo me apaixonei por tradições, lendas, hábitos, costumes, enfim, tudo o que fazia parte do dia-a-dia das nossas gentes e lhe era peculiar.
Nunca deixei que a vida passasse por mim; sempre gostei de fazer parte integrante dela, de a viver e saborear.
Guardo e estimo o que vivi, sem, no entanto, me deixar parar no tempo. Tenho o passado como base para o presente e projecto para o futuro. Na minha óptica os tempos não podem ficar separados por diques, eles foram e deverão ser a continuação uns dos outros.
Dói-me, dói-me muito, ver como a sociedade actual deixa apagar, perder a identidade, a cultura de seus antepassados que deveria ser qual cordão umbilical ou raiz que ligasse uma geração às outras, alimentando os mais novos.
Queimam, destroem, apagam, matam, esquecem. Como querem fazer nova sementeira se jogam fora as sementes, por inúteis? Algumas cairão em terreno bom, porém, a maioria, perder-se-á entre pedras e espinhos.
Tentarei cultivar, amparar as sementes que porventura perduraram; urge fazer novas sementeiras, ensaiar híbridos talvez, mas, para isso, é preciso ter os espécimes.
Para que tudo não se triture e suma na máquina implacável do tempo, farei o registo escrito da minha memória e da de muitos outros que comigo colaboraram, nomeadamente meus pais onde bebi, não só o leite de minha mãe, mas também, a vida e a sabedoria.
A transmissão oral dos valores e tradições é lamentavelmente, cada vez menor. Parece-me chegada a hora de tentar inverter esta marcha do esquecimento que cerceia sem dó nem piedade as raízes, não deixando nenhum elo-de-ligação entre avós e netos.
Se aqui houver um corte radical, os vindouros nunca poderão fazer uma análise da vida de seus antepassados, discernir entre o bem e o mal que fizeram, conhecer o que de bom povoou as suas vidas e que, quiçá, lhes poderia servir de base para novos ensaios, novos e diferentes voos, ou tão só e apenas de lenitivo para os males da modernidade.
Mas vamos ao que importa.
Vamos recuar um pouco no tempo até onde chegava a memória de meus pais e seus contemporâneos e fazer uma viagem a um passado não muito longínquo; apenas o bastante para começarmos lá pelo princípio do século e virmos caminhando de mãos dadas até aos nossos dias.
Vou falar da Bairrada, mais especificamente, do concelho de Oliveira do Bairro e sua situação geográfica.
Vou reportar-me à sua fundação, mencionando algumas datas mais importantes; farei um pequeno historial baseado em alguns dados bibliográficos que recolhi.
Mencionarei todas as freguesias que actualmente fazem parte deste concelho, escrevendo sobre cada uma delas algumas notas de relevo.
Recordarei o início do ensino oficial, a construção das primeiras escolas primárias, bem como o primeiro foco de ensino secundário e seu desenvolvimento. Relatarei alguns usos e costumes do nosso povo, das sua tradições, do seu modo de trajar, de se alimentar, de se divertir e de chorar os seus mortos.
Falarei das épocas festivas ao longo do ano, das suas festas e romarias. Dissertarei sobre movimentos das populações, suas causas e consequências.
Apresentarei notas sobe a saúde e sobre algumas das actuais instituições.
Contarei um pouco do passado por vezes comparado com o presente, fazendo votos de um futuro próspero, apresentarei retalhos da nossa vida, da vida das nossas gentes. Finalmente farei um curto registo de alguns factos vistos com olhos de apego à nossa terra, suas tradições, usos costumes, sua história e seu desenvolvimento… serão enfim umas leves pinceladas que irão lançar um pouco de luz e cor num passado que é nosso e queremos que não se apague mas sim se projecte através do futuro. Procurarei expressar-me numa linguagem simples, usando por vezes até termos populares, hoje quase caídos em desuso.
Pretendo desta forma chegar à grande massa populacional das nossas terras a quem este livro é especialmente dirigido.
Que me perdoem os eruditos se, com tanta simplicidade os escandalizar.



Neste livro vós ireis
Ao redor de uma fogueira
Ouvir histórias de reis
No remanso da lareira.

Recordar nossas avós
Escrevendo com uma pena.
Com seu cabelo em to tós
Indo ao Domingo à novena.

Ireis com vossa criada
Enfeitar um pavilhão
Ao baile e à tremoçada
Na tarde de S. João

.
Lembranças de vossos pais
Com viagens ao passado
Tudo isto e muito mais
Vai ser aqui recordado.

O presente que viveis
O que sois, o que comeis
O que tendes e tereis
Tudo aqui encontrareis.

Porém não nos quedaremos
Pró futuro partiremos
Pois amanhã nós seremos
O projecto que escolhemos.

Neste preciso instante
O livro já está pronto
É relato emocionante
Tudo aquilo que aqui conto.





Comentários

Mensagens populares deste blogue