Alegre Páscoa Florida e Doce - VII
ALEGRE PÁSCOA FLORIDA E DOCE - VII
BEIJAR O SENHOR - VII
Vamos agora reviver um dia de Páscoa,
festa por excelência nas nossas terras.
Além das visitas dos padrinhos, com o
encontro dos compadres recebia-se, e ainda hoje se recebe, uma outra, muito mais
importante: a visita de Cristo… que embora ressuscitado vem até nossas casas
pregado na Sua Cruz, símbolo dos cristãos. Esta visita é causa de muita alegria
visto ser portadora da boa nova da Ressurreição.
Há anos atrás, para beijar o Senhor,
enfeitava-se a sala e à porta da rua da parte de fora, de um lado e do outro,
colocavam-se ramos de alecrim. No chão formava-se um tapete de ervas de cheiro
e flores. Dentro, na mesa do centro, punha-se um pratinho de doces, amêndoas,
tremoços e uma garrafa de vinho branco.
Em cima da cómoda, ou mesa de canto
colocava-se um pires com uma laranja em cima, oferta para o Sr. Prior; a
laranja ia num saco, a moeda noutro. Isto destinava-se ao prior da freguesia
que sempre fazia parte do grupo.
Com o padre vinha o sacristão, dois
homens, um com a cruz, outro para ajudar a levar as ofertas e um garoto com a
campainha. O primeiro a entrar em casa era o padre seguido do sacristão que
trazia a caldeirinha da água benta, com a qual o prior aspergia os presentes
enquanto proferia a seguinte saudação: “ Boas festas corporais e espirituais,
Aleluia! Aleluia!”.
Depois entrava o homem com a cruz que
dava a beijar a todos os presentes começando pelos donos da casa os quais
deveriam colocar-se do lado direito. Depois trocavam-se cumprimentos e, só
então os donos da casa ofereciam o que havia na mesa.
Quando o padre entrava nas casas mais
ricas deitava a mão à taça das amêndoas e metia uma mão cheia delas ao bolso. Estas
destinavam-se às crianças das famílias mais carenciadas em cujas casas nem amêndoas
existiam. Se pelo caminho encontrasse miúdos, o que acontecia a cada passo, o
padre atirava para o meio deles um punhado de amêndoas e era ver a criançada de
zorros pelo chão a ver quem mais apanhava. Havia quem atirasse as amêndoas para os cômoros e silvados só para se rirem
com a miudagem que procurava a todo o custo chegar-lhes mesmo que se arranhassem
todos.
A certa altura começou a aparecer na
mesa de Páscoa o pão-de-ló e os beijinhos, mais tarde os suspiros e bolinhos de
coco.
Agora as mesas estão recheadas de
tudo o que é bom. Começam a ser uma ostentação.
Nesse dia juntam-se familiares e
amigos para beijar o Senhor, confraternizarem e comer o que proporciona uma
grande alegria.
Hoje ainda é pratica corrente a
visita pascal, mas na maioria dos casos feita por leigos; o padre percorre uma
pequena zona da sua paróquia e vai alternando os lugares que visita.
( Com votos de uma Santa Páscoa, com muita saúde e esperança ) (fim do capítulo)
Aida Viegas
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