ALEGRE PÁSCOA FLORIDA E DOCE  III



ANDAR À REZA - III

- Queres ir à reza comigo?
- Talvez. A quantas amêndoas?
- A dez das graúdas ou a vinte das de pinhão?
- A vinte das de pinhão.
- Combinado.
Um aperto de mão selava o contrato.
Este convénio fazia-se uns dias antes da Páscoa e terminava ao aparecer a Aleluia.
Os protagonistas, crianças, jovens e por vezes até adultos, todos os dias se encontravam, e mal se vissem deveriam gritar para o parceiro:
- Reza.
Ganhava o que primeiro pronunciasse esta ordem.
- Hoje ganhei-te! – Dizia um.
- Hoje ganhei eu! – Dizia o mesmo ou o outro, no dia seguinte.
Porém só se ganhava, na realidade, no Sábado ao aparecer a Aleluia. Nesse dia os jogadores espreitavam-se um ao outro para poderem surpreender o parceiro antes de serem vistos.
Havia pormenores que faziam parte da combinação prévia, entre os dois. Por exemplo: quem mandava rezar deveria estar debaixo de telha, ou ao contrário.
Acontecia que o jogador que precisava de estar debaixo de telha, o que pressupunha estar dentro de casa ou à porta, transportava, escondida, uma telha e, ao ver o parceiro, colocava-a sobre a cabeça, cumprindo deste modo o preceito. Uma das regras fixas era verem-se todos os dias e o que primeiro visse o outro mandá-lo rezar.
Outros pormenores poderiam ser combinados, porém, andar à reza mais do que ganhar ou perder, era um pretexto para que as pessoas se procurassem e se encontrassem sempre desde o início do jogo até ao Sábado de Aleluia.
Claro que isto estimulava o convívio e, por vezes, até acontecia que os mais tímidos e acanhados aproveitavam para começarem a cortejar a moça sua preferida e dali iniciarem o namoro.
O vencedor recebia o prémio da aposta no dia de Páscoa, mas, quando o objectivo não consistia exclusivamente em ganhar as amêndoas, poderia até ser o vencedor quem as dava ao vencido.

Aida Viegas


   

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