ALEGRE PÁSCOA FLORIDA E DOCE
ALELUIA
- V
O cheiro a alecrim vinha já desde o Domingo de Ramos. O raminho
benzido no final da procissão, lá estava pendurado na parede do corredor
exalando suave perfume.
De Quinta-Feira Santa a segunda-feira de Páscoa, quase nada se
fazia nos campos; em casa, porém, a azáfama era grande. Era esta a altura ideal
para se proceder à limpeza geral da casa e das suas zonas envolventes. Muitas
visitas iriam chegar nos próximos dias e para as receber era preciso estar tudo
limpo, florido e asseado. No dia de Páscoa as aldeias resplandeciam. Abria-se a
porta da sala e as pessoas de roupas novas e alma lavada irmanavam-se com a
natureza engrinaldada de flores e recoberta dos tenros verdes da Primavera.
Ao perfume das flores e ervas de cheiro vinha juntar-se o cheirinho
a folar, às amêndoas e à chanfana acabadinha de sair do forno...
Outrora a Aleluia era anunciada pelo repicar dos sinos e o
estrelejar dos foguetes, às dez horas de Sábado, vulgarmente chamado Sábado de
Aleluia.
Nessa manhã de alegria, o anúncio da ressurreição do Senhor,
aguardado com expectativa e júbilo, enchia de esperança velhos e novos.
Todos os anos se comentava qual era a terra em que tinha
aparecido primeiro a Aleluia e se troçava da última localidade a proclamar a
vitória de Cristo sobre a morte.
Presentemente só se cantam Aleluias após a meia-noite, ao iniciar
o Domingo de Páscoa. Quando esta mudança surgiu, foi mal aceite por certas
camadas da população, porém, hoje-em-dia, o povo já se habituou.
Anunciada a Aleluia, eram levantadas todas as restrições,
penitências e jejuns. Desse momento em diante as pessoas sentiam-se libertas.
Durante a semana tinham amassado e cozido os folares com que os
padrinhos presenteavam os seus afilhados, desde o ano do baptismo até ao
casamento.
“Entregar o bolo” ou “levar o folar” era motivo de convívio
entre afilhados e padrinhos, mas sobretudo entre compadres e comadres.
Havia dois tipos de folares: os de correias com ovos e as
cangas. Os padrinhos mais briosos chegavam a oferecer folares de dois quilos e
meio com oito ovos em cima.
No decorrer do ano o afilhado ao encontrar o padrinho deveria beijar-lhe
a mão dizendo:
- Deite-me a sua bênção, meu padrinho.
- Deus te abençoe - era a resposta.
E só pelo cumprimento sistemático desta prática os afilhados se
tornavam verdadeiramente merecedores de um bom folar.

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