Testemunhos e vivências
    (in SANTO ANTÒNIO a FREGUESIA e o PADROEIRO) 


              Um azar nunca vem só

              Uma amiga minha, a Beatriz, que é professora na escola secundária de uma cidade próxima, ligou-me há tempos muito preocupada porque, tendo terminado as aulas, não poderia ir para casa e muito menos entrar lá pois se haviam sumido as chaves da sua casa e do seu carro, o jipe do marido.
              A desafortunada senhora, já virara a escola de pantanas, tendo envolvido na operação colegas, alunos e funcionários, que a quiseram ajudar mas, sem nenhum resultado. O diabo escondera-lhe as chaves e contra ele parece que nada havia a fazer. Ou talvez houvesse! Recorrer a Santo António.
              Conhecendo a minha amiga a minha grande devoção, não hesitou em me telefonar a pedir-me que rezasse o responso, intercedendo em seu favor.
              Irei rezar, com todo o carinho e devoção. respondi-lhe, como seria de esperar.
              A Beatriz foi almoçar com umas colegas e estava naquele impasse, sem saber se deveria dar a saber ao marido o que se passara, o que convenhamos, é sempre desagradável, pois pode suscitar uma “boca foleira” do tipo: “trazes a cabeça à razão dos juros”.
              Depois do almoço foi fazer umas compras, sempre de boleia, esperando alguma novidade, não sabendo bem de onde é que ela poderia vir, visto ter esgotado todos os recursos.
              Eu por minha vez rezara e também estava esperando na expectativa do telefonema dela dizendo-me que já tinha as chaves, mas tardou um pouco. Tardou mas chegou. Lá por volta das seis horas tocou o telefone e, é claro que era a Beatriz a dar a boa nova.
              Acabou por ligar ao marido para lhe ir abrir a porta de casa e ir buscar o jipe, com a chave de reserva. Ouviu com a paciência possível a descompostura e estava na cozinha, desanimada e triste, porque um azar nunca vem só, quando tocou o seu telefone. Não era eu, não. Não fiquem impacientes pois para impaciente já basta a Beatriz. Era sim um dos contínuos da escola.
              Contra tudo o que era habitual nesse dia tinham-se esgotado os sacos do lixo que era costume, à tarde, serem distribuídos pelas salas substituindo os que ali se encontravam cheios. Face a este imprevisto resolveram despejar os sacos que eram pequenos, num maior, repondo os já usados, para desse modo deixarem as salas providas para o dia seguinte. Não fora este facto e as chaves da minha amiga teriam ido parar ao contentor pois haviam caído no caixote sem ela, nem ninguém se aperceber e no meio dos papéis não seria o empregado que as iria encontrar. Apenas o despejar dos papéis de um saco para outro deu azo ao feliz desfecho.
              Quando a minha amiga me deu a notícia confesso que, certamente tal como vós, fiquei a matutar em como Santo António se terá lembrado de fazer esquecer, a quem disso estava encarregado, de repor os sacos, antes da ruptura do stock.

                                          Aida Viegas

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