Devoção e Tradição Familiar
(do livro Santo António a Freguesia e o Padroeiro)
Na minha família a devoção a Santo António é tão antiga que se perde no tempo, desconhecendo-se onde começou. Talvez ainda em vida do Santo, meus ascendentes remotos o começassem a invocar, quando a fama, de que Frei António passou a gozar, se começou a propagar.
Sei que um dos meus bisavôs maternos, Manuel Bártolo, herdou a devoção de sua mãe, e a manteve sempre acesa. Pai de cinco filhos, mandou-os a todos estudar, facto raro, mesmo nas cidades e muito mais nas aldeias, como aquela onde morava, tão simples que nem uma escola primária possuía. Manuel Bártolo teve a honra e a alegria de ver um dos seus filhos ordenado sacerdote. Para que ele pudesse rezar a sua primeira missa, na sua terra natal, junto dos seus familiares e amigos, meu bisavô mandou construir anexa à sua moradia, uma casa com dois pisos, enorme para a época, uma capela que dedicou a Nossa Senhora do Livramento, sendo esta Senhora ainda no presente a padroeira do bonito lugar que é hoje a Silveira, na freguesia de Oiã, concelho de Oliveira do Bairro.
Ao lado do altar principal onde a rainha está entronada, lá colocou, o meu bisavô, Santo António o santo, não só da sua grande devoção, mas da devoção de toda a família. Isto em 1887 ano em que se ordenou o seu filho António da Silva Pires. Cremos que não terá sido por acaso que este se chamava António. A capela esteve durante perto de cem anos ao serviço das gentes da terra, sendo o único lugar de culto ali existente. Hoje converteram a antiga escola, em capela pública, escola que havia sido doada ao povo por José da Silva Pires, meu tio-avô, irmão do padre António.
Localizemo-nos no início do século vinte, altura em que por morte da minha avó materna, viúva de Joaquim da Silva Pires, meu avô, que havia falecido com a pneumónica, e era irmão do padre António. A capela, pertença da família, foi motivo de litígio na partilha entre a minha mãe e o seu irmão. Em tribunal, a minha mãe acabou por concordar em ceder a capela ao seu irmão exigindo, porém, que este lhe entregasse a imagem de Santo António, o santo da devoção de toda a família, da qual ela não prescindia. Esta imagem, após a contenda, acabou por ser entregue a minha mãe, pelas mãos do juiz do tribunal da Comarca de Anadia. A devoção manteve-se tão genuína, como nascera, no seio da família. Penso que a isso se deve o facto de uns dez anos depois, meus pais terem sido presenteados com uma filha, justamente no dia dedicado a Santo António, treze de Junho de mil novecentos e quarenta e dois: eu!
Desde que me lembro, como gente, que sempre ouvi minha mãe cheia de fé dizer:
Vou rezar o responso a Santo António porque desapareceu isto, ou aquilo, a algum membro da família, a um amigo, a algum vizinho ou simples conhecido.
Todos os que sabiam da devoção da minha mãe ao Padroeiro das coisas perdidas, lhe pediam, com frequência, para ela rezar o responso, certos de que, apesar de esgotadas as buscas e todos os recursos, iriam recuperam o que se havia sumido. A minha mãe avisava: Se foi roubado não aparece, o mesmo acontecendo se o objecto em questão tiver atravessado água corrente ou, então, se por azar ou distracção, me enganar na oração (o que raramente acontecia).
Cumpridas todas as formalidades exigidas, não haveria dúvidas, tudo apareceria infalivelmente, sempre com a colaboração do próprio interessado que tinha de fazer a sua parte, isto é, procurar, embora muitas vezes o aparecimento se desse de forma quase inexplicável.
Foram inúmeras as circunstâncias em que estes aparecimentos se concretizaram, apresentando alguns deles contornos de autênticos milagres.
(do livro Santo António a Freguesia e o Padroeiro)
Na minha família a devoção a Santo António é tão antiga que se perde no tempo, desconhecendo-se onde começou. Talvez ainda em vida do Santo, meus ascendentes remotos o começassem a invocar, quando a fama, de que Frei António passou a gozar, se começou a propagar.
Sei que um dos meus bisavôs maternos, Manuel Bártolo, herdou a devoção de sua mãe, e a manteve sempre acesa. Pai de cinco filhos, mandou-os a todos estudar, facto raro, mesmo nas cidades e muito mais nas aldeias, como aquela onde morava, tão simples que nem uma escola primária possuía. Manuel Bártolo teve a honra e a alegria de ver um dos seus filhos ordenado sacerdote. Para que ele pudesse rezar a sua primeira missa, na sua terra natal, junto dos seus familiares e amigos, meu bisavô mandou construir anexa à sua moradia, uma casa com dois pisos, enorme para a época, uma capela que dedicou a Nossa Senhora do Livramento, sendo esta Senhora ainda no presente a padroeira do bonito lugar que é hoje a Silveira, na freguesia de Oiã, concelho de Oliveira do Bairro.
Ao lado do altar principal onde a rainha está entronada, lá colocou, o meu bisavô, Santo António o santo, não só da sua grande devoção, mas da devoção de toda a família. Isto em 1887 ano em que se ordenou o seu filho António da Silva Pires. Cremos que não terá sido por acaso que este se chamava António. A capela esteve durante perto de cem anos ao serviço das gentes da terra, sendo o único lugar de culto ali existente. Hoje converteram a antiga escola, em capela pública, escola que havia sido doada ao povo por José da Silva Pires, meu tio-avô, irmão do padre António.
Localizemo-nos no início do século vinte, altura em que por morte da minha avó materna, viúva de Joaquim da Silva Pires, meu avô, que havia falecido com a pneumónica, e era irmão do padre António. A capela, pertença da família, foi motivo de litígio na partilha entre a minha mãe e o seu irmão. Em tribunal, a minha mãe acabou por concordar em ceder a capela ao seu irmão exigindo, porém, que este lhe entregasse a imagem de Santo António, o santo da devoção de toda a família, da qual ela não prescindia. Esta imagem, após a contenda, acabou por ser entregue a minha mãe, pelas mãos do juiz do tribunal da Comarca de Anadia. A devoção manteve-se tão genuína, como nascera, no seio da família. Penso que a isso se deve o facto de uns dez anos depois, meus pais terem sido presenteados com uma filha, justamente no dia dedicado a Santo António, treze de Junho de mil novecentos e quarenta e dois: eu!
Desde que me lembro, como gente, que sempre ouvi minha mãe cheia de fé dizer:
Vou rezar o responso a Santo António porque desapareceu isto, ou aquilo, a algum membro da família, a um amigo, a algum vizinho ou simples conhecido.
Todos os que sabiam da devoção da minha mãe ao Padroeiro das coisas perdidas, lhe pediam, com frequência, para ela rezar o responso, certos de que, apesar de esgotadas as buscas e todos os recursos, iriam recuperam o que se havia sumido. A minha mãe avisava: Se foi roubado não aparece, o mesmo acontecendo se o objecto em questão tiver atravessado água corrente ou, então, se por azar ou distracção, me enganar na oração (o que raramente acontecia).
Cumpridas todas as formalidades exigidas, não haveria dúvidas, tudo apareceria infalivelmente, sempre com a colaboração do próprio interessado que tinha de fazer a sua parte, isto é, procurar, embora muitas vezes o aparecimento se desse de forma quase inexplicável.
Foram inúmeras as circunstâncias em que estes aparecimentos se concretizaram, apresentando alguns deles contornos de autênticos milagres.
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