Santo António a Freguesia e o Padroeiro
(Inéditos - continuação)
Curiosa é a
facetada tradição da ida a Aveiro à Procissão das Cinzas, momento alto na
cidade e na igreja diocesana que, como o nome indica, tinha lugar todos os
anos, na quarta-feira de cinzas.
Pois era comum grande massa de
povo deslocar-se a Aveiro para assistir a esta manifestação de fé e penitência.
Como os transportes eram raros e o
dinheiro muito pouco, o pessoal ia a pé ou de bicicleta, logo pela manhã,
regressando à tardinha.
Rapazes e raparigas partiam em
ranchos e este trajecto era uma das oportunidades ideais para conversas e
encontros que poderiam mais tarde resultar em namoro.
Ao voltarem era comum virem os
jovens aos pares caminhando e conversando animadamente.
Se, por ventura, alguma moça
apesar dos seus esforços, regressava sozinha, era certo e sabido que vinha
triste, mas pior ficava ao chegar à sua terra, pois ali era geralmente
aguardada por bandos de garotos matreiros, sempre prontos a espiar quem vinha
com quem. Essa “canalha miúda” ao ver uma rapariga sozinha, como se não bastasse
a sua desilusão, apupava-a gritando-lhe:
Oh! Vens de “rapóla”! Vens de “rapóla”!
E quanto mais ela se zangava, mais
eles gritavam fugindo e escondendo-se por detrás dos muros:
Vens de “rapóla”! Vens de “rapóla”!
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