INÉDITOS (continuação )
Parece que o Ti Carramão ia ao moliço e ficava por lá
dois e três dias. Quando voltava visitava a sua namorada, a Naziré Cuteta, cheio de saudades. Um dia
foram a uma festa e no caminho tiveram de atravessar uma vala larga, com muita
água. Como a vala era funda, o homem, num gesto de cavalheiro, resolve pegar na
cachopa ao colo, para lhe facilitar a travessia.
A meio da corrente o mancebo,
agarrando fortemente a musa dos seus sonhos, pergunta-lhe aflito:
Ó Naziré a tua honra está por fora ou
por dentro da saia? Ai mulher! Se está por fora já te desonrei.
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Também nos falaram da
subserviência e dedicação, demonstradas por uma mulher que chegava ao cúmulo de
ir levar o jantar, pelo meio-dia, ao seu marido, enquanto ele passava um dia
atrás de outro, na taberna do Ti Silvino, a fumar e a beber, quase só indo a
casa para dormir.
♣
E
segundo nos disseram, viveu uma mulher na Quintã cujo marido era bastante mais
velho do que ela e, consta que, quando a dama se zangava com ele, resolvia
pô-lo de castigo. E qual era esse castigo? Quereis saber?
Pois dizem que a mulher forçava o
velhote a sentar-se numa trempe quente.
Ele há cada uma!
♣
Também soubemos que um determinado
sujeito, ainda antes da chegada da electricidade, comprou um grande aparelho de
rádio o qual era alimentado com a bateria de um carro. Como era coisa rara,
novidade que, na terra, ainda ninguém tinha, vizinhos e conhecidos juntavam-se
para ouvir a música saída dali, como por magia. Havia um programa com ranchos folclóricos.
Para escutar essa maravilha uma certa mulher nunca faltava em casa do vizinho.
Quando a dona da casa baixava o volume, por qualquer conveniência, a mulher dizia,
convicta e com ar sabedor: “Olha!... Os pares agora vão a dar a volta, vão ao
longe… quase nem se ouvem…”
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