Doutora Honoris Causa
Uma rosa para a Rosa
Doutora Honoris Causa
Certo dia estando Rosa nas urgências
do hospital na prestação do seu serviço de voluntariado, apareceu, para ser
atendida, uma senhora simples, dos arredores da cidade, que tinha sido mordida
numa perna, por um cão. A senhora encontrava-se deitada numa maca no corredor
das urgências, e Rosa como era seu costume, abeirou-se da doente e entabulou
conversa com ela, de modo a prestar-lhe o auxílio de que necessitasse. A boa
mulher foi-lhe contando o motivo por que viera ali parar, foi-lhe dizendo da
sua preocupação em o dono do cão ser molestado, o que no seu entender não seria
correcto visto ser ela a ter-se metido com o animal enquanto ele estava a
comer, o que o ilibava da culpa da sua agressão. Enquanto falava, a paciente
tratava a voluntária por senhora doutora, trato que Rosa rejeitou, dizendo à senhora
que não era doutora e que, portanto, não a tratasse assim.
Afastou-se da doente por momentos,
indo atender outras pessoas, mas esta logo que pode chamou-a e continuou a
falar-lhe dos seus problemas, e a tratá-la por doutora. Rosa lembrou-lhe novamente
de que não era doutora. Doutores e doutoras eram os médicos, ali em serviço,
ela nem enfermeira era, apenas voluntária, estava ali para prestar alguns
serviços auxiliares a quem deles necessitasse. Pediu, pois que não a tratasse
dessa forma.
Rosa embora fosse uma pessoa com bastante formação académica estava ali
apenas para servir e não para fazer gala das suas competências.
De novo se ausentou e de novo foi chamada pela doente. O trato
continuava, e Rosa procurando esclarecer a paciente e tentando que ela
modificasse a maneira de a tratar disse-lhe a dada altura:
─ Se a senhora continuar a tratar-me por doutora, vou-me embora e não
volto mais aqui ao pé de si.
A
outra sorriu e acrescentou:
─ Como não a hei-de tratar por doutora? A senhora é a pessoa mais
importante para mim, sem dúvida, que aqui se encontra, decerto a única que
merece ser tratada por doutora. Veja bem ao ror de tempo que eu aqui estou, e
ainda ninguém se abeirou de mim a perguntar-me sequer o que é que eu tenho. Apenas
a senhora me dirigiu a palavra e me acalmou. Diga-me, pois, quem é doutora
aqui, é a senhora ou são eles? Ainda tem dúvidas?
Aida Viegas ( do livro - Histórias de bolso das gentes de Aveiro)

Comentários