AMENTAR DAS ALMAS 

 (terminar dos dois textos anteriores)







O amentar das almas caiu no esquecimento por alguns anos, mas foi retomado em Malhapão, onde o seu uso era dos mais antigos, por um grupo de homens crentes com gosto pelo canto e pela música, que procuraram seguir os passos dos seus antepassados.

Como na altura não encontrassem ninguém conhecedor da letra antigamente usada, arranjaram quem recriasse uns versos adequados e foi com letra de António Fresco e uma adaptação da música que andava ainda no ouvido de muitos, que se reorganizaram.

As quadras cantadas por este último grupo de Malhapão são as que se seguem:

 

Ó almas que estais dormindo

Nesse sono tão profundo

Acordai e rezai

Às almas do outro mundo.

 

Rezai mais um Pai Nosso

E também uma Avé Maria

Pelas almas deste ramo

E de toda a freguesia.

 

Se o teu coração sente

Quanto custa o sofrer

Deixa as vaidades do mundo

Lembra-te que hás-de morrer.

 

Rezai a Salvé Rainha

À Virgem Nossa Senhora

Pra que na hora da morte

Seja a nossa protectora.

 

A vida que tu adoras

Vai correndo para a morte

E depois a tua alma

Irá ter uma negra morte.

 

Recorda-te ó bom cristão

Os escravos lançaram à cruz

Uns espinhos tão agudos

Na cabeça de Jesus.

 

Toca a campainha três vezes, reza-se o Pai nosso e a Avé Maria. Toca a campainha três vezes, toca o saxofone a solo.

 

Todavia volvidos quatro anos, recomeçou, de novo, o silêncio pois o grupo não mais conseguiu reunir-se; cremos porém que em breve irá retomar-se a tradição.

             Aida Viegas (in OLIVEIRA DO BAIRRO - MEMÒRIAS DE UM SÉCULO) 1994
   

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