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A mostrar mensagens de março, 2015
AMENTAR DAS ALMAS   (terminar dos dois textos anteriores) O amentar das almas caiu no esquecimento por alguns anos, mas foi retomado em Malhapão, onde o seu uso era dos mais antigos, por um grupo de homens crentes com gosto pelo canto e pela música, que procuraram seguir os passos dos seus antepassados. Como na altura não encontrassem ninguém conhecedor da letra antigamente usada, arranjaram quem recriasse uns versos adequados e foi com letra de António Fresco e uma adaptação da música que andava ainda no ouvido de muitos, que se reorganizaram. As quadras cantadas por este último grupo de Malhapão são as que se seguem:   Ó almas que estais dormindo Nesse sono tão profundo Acordai e rezai Às almas do outro mundo.   Rezai mais um Pai Nosso E também uma Avé Maria Pelas almas deste ramo E de toda a freguesia.   Se o teu coração sente Quanto custa o sofrer Deixa as vaidades d...
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AMENTAR AS ALMAS (Continuação do texto anterior)   O grupo compunha-se de três ou quatro cantadores, um tocador de saxofone, um de violino, um de trompete e outro que tocava uma campainha; os restantes, em maior ou menor número, rezavam. Estes homens depois de devidamente ensaiados aos serões, juntavam-se à porta de cemitério, das capelas ou das igrejas para aí irem buscar as almas dando assim início ao ritual. Depois, seguiam e iam parando junto das alminhas, nos cruzamentos e à porta das capelas, repetindo sempre os mesmos ritos. O canto subia no silêncio da noite, dolente e dorido nas vozes fortes dos homens, acompanhado pelos gemidos do violino e pelo som grave do saxofone: a este que soava como alerta e prece, juntava-se a oração cadenciada, interrompida com o toque da campainha e o solo dolente do saxofone. Tudo isto nunca deixava de causar sobressalto e um certo arrepio a quem, noite alta era acordado inesperadamente. No aconchego do leito, recordavam-se os...
Amentar as almas   (do livro OLIVEIRA DO BAIRRO - MEMÓRIAS DE UM SÈCULO)   Amentar como a própria palavra indica, é trazer à mente, embora se lhe atribua também o significado de rezar pelos finados, responsar e exorcizar. Nas nossas terras, amentar as almas revestia-se de dois sentidos: o primeiro consistia em lembrar ao homem que esta vida é passageira, que outra nos espera, e que para vir a ser feliz na outra, que se crê durar para sempre, é necessário cuidar da alma; o segundo era a intenção de sufragar as almas daqueles que já não faziam parte do reino dos vivos. A Quaresma é, por excelência, tempo de meditação e oração sendo pois nesta quadra litúrgica, na Semana Santa mais propriamente, que essa tradição, vinda até nós de geração em geração, era praticada em várias localidades, como a Palhaça, toda a freguesia de Oiã e outros locais.   À porta das almas santas Bate Deus a toda a hora As almas lhe perguntaram Que quereis ...
SARRAMENTO DA VELHA   Sarruque, sarruque. Sarruque, sarruque. - Ó velhinha vai mais um fio? - Sarruque, sarruque. Sarruque, sarruque. O estranho som do “sarruque” era produzido por uma corrente velha de bicicleta a surrar num cortiço já velho e estragado ou numa tábua carunchosa. Este concerto ouvia-se na noite da “demicareme”, à porta dos velhos mais velhos dos lugares. Os brincalhões lançavam o desafio através de um funil e com a voz mudada fazendo as mais diversas incitações: - Sarra a velha e sarra a nova, sarra o cu à Ti Custódia: - Ó velhinho, mais um fio? Tudo isto era feito em tom brejeiro e jocoso, com carinhosa malandrice, desafiando os velhotes a tentarem retomar a sua actividade sexual e, ao inquirirem “vai mais um fio”, incitavam-nos à prática ao menos naquela noite. - Vossemecê precisa ser sarrado/a, para viver mais uns anitos!... Sarruque, sarruque. Sarruque, sarruque. - Queremos voltar outravez par...
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