Com votos de uma Santa e Feliz Páscoa
ALEGRE PÁSCOA FLORIDA E DOCE
ANDAR À REZA
- Queres ir à reza comigo?
- Talvez. A quantas amêndoas?
- A dez das graúdas ou a vinte
das de pinhão?
- A vinte das de pinhão.
- Combinado.
Um aperto de mão selava o
contrato.
Este convénio fazia-se uns dias
antes da Páscoa e terminava ao aparecer a Aleluia.
Os protagonistas, crianças,
jovens e por vezes até adultos, todos os dias se encontravam, e mal se vissem
deveriam gritar para o parceiro:
- Reza.
Ganhava o que primeiro
pronunciasse esta ordem.
- Hoje ganhei-te! – Dizia um.
- Hoje ganhei eu! – Dizia o mesmo
ou o outro, no dia seguinte.
Porém só se ganhava, na
realidade, no Sábado ao aparecer a Aleluia. Nesse dia os jogadores
espreitavam-se um ao outro para poderem surpreender o parceiro antes de serem
vistos.
Havia pormenores que faziam parte
da combinação prévia, entre os dois. Por exemplo: quem mandava rezar deveria
estar debaixo de telha, ou ao contrário.
Acontecia que o jogador que
precisava de estar debaixo de telha, o que pressupunha estar dentro de casa ou
à porta, transportava, escondida, uma telha e, ao ver o parceiro, colocava-a
sobre a cabeça, cumprindo deste modo o preceito. Uma das regras fixas era
verem-se todos os dias e o que primeiro visse o outro mandá-lo rezar.
Outros pormenores poderiam ser
combinados porém andar à reza mais do que ganhar ou perder, era um pretexto
para que as pessoas se procurassem e se encontrassem sempre desde o início do
jogo até ao Sábado de Aleluia.
Claro que isto estimulava o
convívio e, por vezes, até acontecia que os mais tímidos e acanhados
aproveitavam para começarem a cortejar a moça sua preferida e dali iniciarem o
namoro.
O vencedor recebia o prémio da
aposta no dia de Páscoa mas, quando o objectivo não consistia em ganhar as
amêndoas, poderia até ser o vencedor quem as dava ao vencido.
Aida Viegas (in OLIVEIRA DO BAIRRO _ MEMÒRIAS DE UM SÈCULO)
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