Na Minha Casa Até o Cão é Cadela     

  

No tempo em que ainda se não faziam eco grafias para se poder saber o sexo do bebé que estava para nascer, até ao momento do parto, andava-se na incerteza, e numa grande ansiedade, sobretudo os casais que já tinham um, ou mais filhos, e desejavam outro de sexo diferente.

         Eram meus clientes, num estabelecimento de artigos e roupas para bebé, que tinha em Luanda, um casal de Alemães ali a viver. O casal tinha já três meninas e a senhora esperava um quarto filho, com muita alegria e esperança de ser presenteada com um rapaz. Fizeram a maior parte das compras em cores neutras, que ficariam bem tanto a uma menina como a um menino, caso o azar os perseguisse, mas a sua esperança no rapaz era grande.

    A data do parto aproximava-se, e contra o que era habitual, o cavalheiro apareceu sozinho na loja. Ao vê-lo sem a companhia da esposa, deduzindo que o bebé já tivesse nascido, apressei-me a cumprimentá-lo e a perguntar-lhe se o parto já tivera lugar, e se era menino ou menina.

Ele deu alguns passos frente ao balcão, e com um ar mais pesaroso do mundo, respondeu-me:

─ Sim. O bebé já nasceu, o parto foi normal e correu tudo bem.

─ Então, desta vez sempre veio o rapaz? ─  Insisti.

─ Rapaz?  Disse pesarosa: - Acha que iria ter essa sorte? Não. A sorte, nesse campo abandonou-me de vez. Então não sabe que fui condenado à minoria?

Como assim?  Indaguei, tentando desdramatizar.

Não sabe? Pois fica a saber. Na mina casa, moro eu com a minha mulher, as minhas quatro filhas, a minha mãe, a minha sogra, a cozinheira, a lavadeira, e para cúmulo, veja bem, até o cão é cadela!
 
 
 
 
 

Aida Viegas (in Histórias de Bolso das Gentes de Aveiro) 

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