Carnaval Divertido e Brincalhão
A Festa do Galo
Aida Viegas (in Oliveira do Bairro - Memórias de um Século)
A Festa do Galo
A
Festa do Galo começou no concelho de Oliveira do Bairro e alargou-se a algumas
povoações vizinhas de outros concelhos.
Não
se sabe bem em que terra terá sido feita pela primeira vez, porém, é voz
corrente que a ideia que presidiu a esta festa foi mostrar ao professor o
apreço e reconhecimento que o povo tinha pelo seu trabalho.
O galo,
o rei da festa, comprado inicialmente com a participação de todos, era levado
num carroço enfeitado de bichaneiras, por um grupo dos alunos mais velhos, à
casa do professor no meio de grande farra. Ao galo foram-se juntando outras
aves de capoeira.
A
festa realizava-se no Domingo Gordo e variava de terra para terra. De início,
os alunos colectavam-se para comprar o galo. Depois, os galos começaram a ser
oferecidos pelos pais e o dinheiro passou a custear outras despesas, tais como:
foguetes, serpentinas, e papel de seda para enfeites, estes além das mimosas,
eram feitos com serpentinas, canas da índia e banderinhas de papel. Era hábito
o professor presentear as crianças com gulodices.
Em
Malhapão começou a fazer parte da festa uma brincadeira muito interessante – o
partir da cantara – antecipado da leitura do testamento do galo. Esta leitura,
feita por um aluno com boa entoação e voz forte, era muito apreciada, toda a
gente gostava de assistir juntando-se no arraial. Malhapão inteiro vinha, não
só ver mas participar.
Numa
cântara era metido o maior galo do carroço. Pela asa da cântara passava-se um
adibal. Uma das pontas deste amarrava-se no velho sobreiro, a outra passava por
cima de um ramo de outra árvore, ficando solta até ao chão. Esta ponta da corda,
comandada por dois homens iria fazer subir ou descer a cântara.
Os
alunos da quarta classe eram os candidatos a parti-la. Um de cada vez, de olhos
vendados com um lenço, depois de volteado para se desorientar, começava às
pauladas no ar tentando acertar na cântara.
O
miúdo depois de três tentativas dava o lugar a outro. Começava-se a brincadeira
pelos mais novos e pequenotes para a festa durar mais tempo.
O
galo estrebuchando fazia balançar a cântara que por sua vez, subia e descia
segundo a vontade dos homens que comandavam a corda. O público,
entusiasmadíssimo, gritava ordens controversas.
-
Para a direita! – Diziam uns. Para a esquerda! Gritavam os do outro lado. –
Mais para cima!... Dá-lhe agora.
O
rapazito baralhava-se de tal modo que, por vezes, vinha sobre a assistência de
pau em riste. Era ver quem mais corria e a risota era geral.
A
certa altura um mais espertalhote mexia o lenço de forma a ficar a ver e a
cântara despedaçava-se ante os aplausos da assistência, saltando cacos por todo
o lado.
O galo
ao ver-se em liberdade e meio aturdido pela pancada fugia. Logo era perseguido
e apanhado por um aluno que receberia como prémio uma quantia igual àquele que
partisse a cântara: uma moeda oferecida pelo professor.
Com
o correr dos anos a festa passou a integrar-se nas actividades escolares.
A
partir daí, a sala de aula começou a ser enfeitada pelos alunos da quarta
classe, que eram os organizadores e responsáveis por tudo. As bichaneiras, as
camélias, as canas da índia nunca deixaram de estar presentes na ornamentação
que foi sendo enriquecida progressivamente com serpentinas, tiras e balões em
papel colorido.
A
arte da decoração sempre aperfeiçoada, era transmitida pelos mais velhos aos
mais novos.
Tornou-se
habitual no final da festa o professor oferecer um lanche aos alunos o qual
começou por ser pão, tremoços e figos secos e mais tarde foi sendo alterado.
Aida Viegas (in Oliveira do Bairro - Memórias de um Século)
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