A travessia do Rio de La Plata
                       (continuação - Vivências e Testemunhos)

             
              Em 17 de Abril de 2005 encontrávamo-nos em Buenos Aires tendo nesse dia programada uma visita ao Uruguai. Bem cedo saímos do hotel em direcção ao porto onde entrámos num barco que levava, além de muitos carros, mil e tal passageiros. O barco ia cheio. O dia estava chuvoso mas com uma temperatura agradável. Era Outono. O Rio de La Plata é o rio mais largo do mundo na sua foz. A travessia iria ser demorada. Eu que tanto gosto de fotografar, sobretudo sendo lugares onde nunca estive, ia desconsolada, pois o estado do tempo não me permitia fazer as fotos que desejaria. Surgiu uma aberta e logo saquei da máquina mas, foi sol de pouca dura.
              Fomos seguindo e quando começámos a avistar o porto, já os altifalantes nos convidavam para a saída. Como o grupo era grande e estávamos dispersos, procurámos juntar-nos a pedido do guia, para iniciarmos de seguida a visita à cidade, de onde, só regressaríamos pela noite.
              No bulício do desembarque apenas nos preocupávamos em manter-nos unidos para não haver perda de tempo.
              Depois de uma volta pela parte nova, durante a qual continuou o chuvisco, dirigimo-nos de autocarro para o centro da cidade e parámos a fim de visitar o antigo mercado, agora transformado num centro de restauração. Aromas apetitosos a comida e a temperos invadiam-nos as narinas. Os grelhados eram feitos à vista dos clientes. O local é curioso e agradável. As vestimentas dos empregados eram garridas e vistosas, o modo como tudo estava exposto, original. Uma agradável surpresa! Tinha de tirar montes de fotografias. Abri a carteira para puxar da máquina fotográfica mas a decepção foi tremenda. Por mais que vasculhasse, nada encontrei. Tudo perdeu a graça. A minha máquina era muito boa, tinha-ma oferecido meu marido no dia do meu aniversário; tinha dentro um rolo com as fotos da nossa digressão nocturna em Buenos Aires, na noite anterior. Lembrei-me que poderia estar no autocarro, mas a esperança era pouca pois não tinha nenhuma ideia de a ter retirado da carteira nesse local. Ao voltarmos para o autocarro verifiquei que, tal como eu supunha, ali não estava nada. Não havia dúvida, deixara a máquina no barco. Falando com o guia soube que o barco fazia carreiras constantes, não se detendo no cais mais do que o suficiente para saírem os passageiros e entrarem outros. Deveria nessa altura, estar a chegar novamente a Buenos Aires, com uma lotação semelhante à que trouxera.
              Pedi-lhe para entrar em contacto telefónico com o capitão da embarcação, o que fez apenas para me agradar, pois afirmava que, no meio de tanta gente que entrou e saiu, se alguém vira a máquina, certamente a arrecadara e a levara consigo.
              No entanto insisti e ele satisfez o meu pedido. Eu, cá tinha a minha fé, embora ali humanamente tudo parecesse impossível. Apesar de todos os desencorajamentos, recolhi-me, logo que pude e rezei o responso a Santo António. Fiquei tranquila, sabia que a minha máquina iria aparecer de qualquer maneira. Os companheiros de viagem que me haviam visto no dia anterior tão eufórica, a tirar fotografias, lamentavam o sucedido. Logo num lugar daqueles com tanta coisa interessante! Eu a todos afirmava que, apesar de tudo, a minha máquina iria aparecer. Sorriam com o meu optimismo mas eu via em seus olhos a descrença e o espanto pela minha certeza.
              Voltando ao cais de embarque dirigi-me de imediato ao gabinete de apoio mas aí foi-me dito que se algo é encontrado, costuma ser guardado na sede da companhia em Buenos Aires.
              Após entrar no barco procurei o imediato que, por sinal, era uma simpática senhora e ela disse-me que a tripulação já não era a mesma, pelo que de nada sabia, mas logo que chegássemos a terra me levaria aos perdidos e achados, para vermos o assunto.
              Passei a viagem com um certo nervosismo, tenho de confessar. Eu pensava que ao embarcar já teria a minha máquina. Tinha afirmado tão peremptoriamente que ela apareceria que todos me perguntavam se já a encontrara. Agora apesar de estar numa ansiedade enorme, não podia vacilar, mesmo estando ciente de que entre milhares de pessoas, aquele objecto atractivo ir parar a mãos generosas que a entregassem, para devolver ao dono, seria um puro milagre. Mas os milagres acontecem! Sobretudo se for pela intercessão de Santo António.
              Certo é que eu ia aflita, até porque às pessoas mais próximas já havia confessado que a causa da minha esperança era o meu protector, Santo António, ao qual rezara o responso logo que me vi em apuros.
              Finalmente atracámos, já eu estava pronta para saltar para terra, com a senhora a meu lado. Saímos, ela indicou-me o local onde me deveria dirigir, e despediu-se, pois tinha serviço urgente a fazer. Entrei na dependência e logo um funcionário me atendeu, a quem eu relatei o sucedido e indiquei a marca e as características da máquina. O senhor nada me disse, abriu uma gaveta e, procurou lá dentro, não sei bem o quê. Eu estava com tal expectativa que quase nem conseguia falar. O homem retirou da gaveta uma chave, voltou-se e introduziu-a na fechadura de um armário que ficava por detrás da sua secretária. A porta abriu-se e eu vi imediatamente a minha máquina, ali vivinha à minha espera. Até me saltaram as lágrimas!
              Foi-me explicado que, casualmente, a piloto de serviço passara na área onde eu esquecera a máquina e vendo-a, a recolhera, antes de entrarem novos passageiros no navio. E ali a tinha entregue, para aguardar que alguém a reclamasse.
              Agradeci e pulei de alegria, indo de imediato contar a todo o grupo a graça recebida de Santo António, o Santo da minha devoção e padroeiro das coisas perdidas.
              Muitas cópias do responso foram feitas durante aquela viagem!!!

                      Aida Viegas (SANTO ANTÒNIO A FREGUESIA E O PADROEIRO)

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