A caminho de S. Francisco    

PELO MUNDO


S. Francisco da Califórnia     
   
         Uma bela manhã estando eu com meu marido de visita à cidade de S. Francisco, na Califórnia, hospedados num dos hotéis locais, descemos à sala de refeições a fim de tomar o pequeno-almoço. Prontamente um dos empregados de mesa se dirigiu a nós cumprimentando-nos e perguntando se pretendíamos café e leite visto que tudo o resto estava servido em bufet. Retribui os cumprimentos e no meu péssimo inglês pedi-lhe, que por favor, nos trouxesse café e leite, mas quente. (Era costume servirem sempre o leite frio.)
         O rapaz cortesmente anuiu com a cabeça, e afastou-se com um sorriso. Passados poucos instantes regressou com um café cheiroso e um pequeno bule de leite, mas gelado. Apalpei o bule e verificando que não estava como era meu desejo, tentei através de gestos explicar-lhe o que pretendia, pois, estava claro, que mais uma vez o meu inglês não funcionara. O empregado que por sinal tinha ares de mexicano, percebeu e trouxe-nos o leite quente com toda a gentileza, e sempre atento, ao ver que não falávamos inglês um com o outro, perguntou-nos:
         ─ Espanhóis?
         ─ Não. Portugueses. Esclareci, desta feita, em português, esperando que assim facilitasse a comunicação.
         ─ Ah! ─  Exclamou com um sorriso.
         E, já não em inglês, mas tentando ser simpático, num espanhoguês, que eu mal entendi, perguntou se vínhamos com o Hugo.
         Surpreendida pelo facto de ele já saber o nome do nosso guia português, disse que sim, satisfeita. E comentei com o meu esposo, como era simpático o empregado! Até já sabia o nome do nosso guia!
         O rapaz afastou-se sempre com um sorriso nos lábios e passados uns momentos voltou de novo, trazendo-nos sumo de laranja. Naturalmente agradecemos, retribuindo-lhe o sorriso.
         Algum tempo depois entrou na sala o nosso guia Hugo que nos saudou e se sentou na mesa ao lado da nossa, e entretanto, enquanto não vinham servi-lo, começámos a conversar sobre a viagem, como era habitual.
         Surgiu de seguida o mesmo empregado que nos havia servido, e perguntou qualquer coisa ao nosso guia, já não em inglês, visto ter percebido que éramos um grupo de portugueses. O Hugo retorquiu-lhe sorridente: ─ Sim, Hugo é o meu nome, e o empregado estendeu-lhe a mão para o cumprimentar. Após um cordial aperto de mão e mais uma troca de palavras entre eles, o nosso guia dirigiu-se-lhe de novo em inglês, não tendo eu ouvido nem entendido bem, o que lhe disse. Certo é que o jovem se afastou e voltou com sumo de laranja e café com leite quente.
         Foi neste momento, que me apercebi do equívoco que se gerara entre mim o empregado e o guia, e não me contendo desatei a rir.
Penso, que sentindo-se já quase familiarizado com os hóspedes, pelo bom ambiente que se gerara, dado estarmos todos sorridentes e com boa disposição, o rapaz, cordialmente, aproximou-se um pouco de nós e comentou. “─ Hugo a nice name.”
         Eu assenti com a cabeça, rindo ainda mais.
É que afinal quando eu entendi que ele já conhecia o nosso guia, o Hugo, ele tinha-me perguntado, num espanhol manhoso, se queria sumo, (jugo, em espanhol), e um trocadilho semelhante sucedera, ao falar com o nosso guia. Tal como eu, o Hugo se equivocara, compreendendo que o empregado lhe perguntara se, se chamava Hugo, quando o que lhe disse foi, se queria sumo.
Concluí, que a boa vontade, em comunicação, nem sempre resulta, como neste caso. O Hugo português poderá soar a “sumo” em espanhol da América Latina, existindo apenas uma pequena diferença de pronúncia. Com um pouco mais de distracção, os menos precavidos, poderão acabar por apertar a mão ao sumo, e inadvertidamente, o que será mais perigoso, até beber o Hugo!

                    (in HISTÓRIAS DE BOLSO DAS GENTES DE AVEIRO)

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