JORNAL DA BAIRRADA
26 de Junho de 2014-07-04
LIVROS

“DE MALA AVIADA”, de Aida Viegas

A escritora bairradina (de Malhapão), Aida Viegas Apresentou mais um livro. Desta feita, “De mala aviada – Com a aventura na alma e a poesia no coração”, fruto das suas intermináveis viagens. O evento teve lugar no sábado, dia 14 do corrente, no salão nobre da Junta das Freguesias Glória/Vera Cruz, Aveiro. O espaço encheu-se e foi uma festa o que aconteceu, com momentos de coreografia (a autora apareceu arrastando a sua mala de viagem, ainda cheia de sonhos, que também pintam de arco-íris as páginas do livro), declamação de poesia, canto e música. Presidiu à cerimónia Capão Filipe, vereador da cultura da Câmara de Aveiro, ladeado por Fernando Marques, presidente da União de Freguesias Glória-Vera Cruz, e Carreto Lages da Academia de Saberes de Aveiro.

O lugar dos afectos. Apresentou o livro Sónia Feliciano Martins, salientando desde logo que a autora em todos os livros tem o dom de “perscrutar minuciosamente o quotidiano, colhendo dele toda a cor que tantos, quiçá a maior parte de nós, insistem em menosprezar”. Sónia Feliciano afirmou ainda que esta obra assenta em quatro pilares: a natureza, que é uma das suas grandes paixões; a descoberta da cultura e da parte social de cada povo, no desejo de conhecer os outros, abrindo horizontes ou soltando uma lamúria pelos terríveis contrastes, isto é, retendo na retina da memória, “a riqueza e a diversidade de ritos e de mentalidades numa palete de cores culturais com que pinta depois a família num olhar ora terno ora cúmplice”; o lugar dos afectos, que está bem vincado na Nota Prévia e o olhar crítico sobre muitas situações, o que acontece, saltando do deslumbramento para dar lugar à denúncia. Mas uma coisa está à vista: a autora, ao não alongar-se nas impressões, que dariam vários livros, quis reter o essencial e guardar assim muita coisa para si. Cinquenta e oito países já é muito mundo.

Vivências. Uma das características dos livros de Aida Viegas é a das vivências, o que só os enriquece. Ela está por dentro do livro, corre e brinca nas suas páginas, deixando marcas. Este não foge à regra geral. Ela sempre gostou de viajar, primeiro em sonhos, depois de pé em terra e de mala aviada. Pelo sonho é que correu mundo, belas paragens a deleitaram, descobriu mundo, um pouco da humanidade. Viu bom e bonito, observou grandezas e misérias de regiões e países. Desde muito cedo, segundo confessou: “ Foi sonhando que comecei a viajar embalada com os relatos de meu pai e com as histórias que minha mãe me contava. Depois, passei a fazê-lo através da leitura” e confessou ainda que “ este livro faz parte de um dos meus sonhos, escrever. Escrever e viajar foram dois dos anseios que nasceram, era eu crianças ainda. Cresceram comigo e aos poucos foram tomando o seu lugar, cada um a seu modo e a seu tempo”. Mas este livro tem também algo de didáctico: antes de viajar longe do chão pátrio, percorreu os caminhos de Portugal de norte a sul, encheu a retina de paisagens e recantos e a mala de memórias.

Se este livro faz parte dos seus sonhos, generosa, se quis repartir com o leitor os sonhos, não é menos verdade que, com a sua venda, quer reparti-los com os pobres de outros mundos, mais concretamente com o Lar Feminino de S. João Batista da Missão de Marrere, Moçambique, onde trabalha a irmã do marido.

“De Mala Aviada” divide-se em duas partes: a primeira é um misto de crónica e reportagem, olhares mais demorados ou rápidos, notas, mensagens, breves impressões, onde a poesia espreita, aqui e ali, procurando trazer à tona das palavras, momentos de paz e harmonia. A segunda é uma recolha de poesia que saltita natural e correntia, ao sabor das brisas e da inspiração de momento. É a outra face desta viagem grande, a memória poética de tanta coisa, à volta de tantos mundos quantos os recantos visitados. Nesse roteiro poético não esqueceu nem a Bairrada, nem Aveiro, onde vive, trabalha e sonha. A propósito, Capão Filipe, declarou: “ouvimos dizer num dos seus poemas que Ama Aveiro. Pode estar certa que Aveiro também a ama.” Afinal, um livro que tanto se pode ler de um fôlego, como a leitura se pode estender ao longo das asas do sonho e das paisagens de encanto que a autora traz até nós.

Armor Pires Mota

Comentários

Mensagens populares deste blogue