II

           Nosso Padroeiro Santo António

Vida de Santo António
(do livro “Casa de Santo António de Lisboa”1978 e outras fontes)

Santo António nasceu no ano de 1195, supõe-se que no dia 15 de Agosto, em Lisboa, filho de pais ilustres: Martinho de Bulhões, descendente do famoso Chefe da primeira Cruzada, cavaleiro do rei Afonso II de Portugal e Maria Teresa Taveira, aparentada com Failo I, o quarto rei das Astúrias. Foi baptizado na Sé Catedral de Lisboa tendo-lhe sido imposto o nome de Fernando Martinho de Bolhões.
Residiu durante os primeiros anos de sua vida na casa de seus pais, junto da Catedral. Com sete anos de idade, começou a estudar, um privilégio raro na época, na Escola da Sé Patriarcal, onde terminou os estudos, mais tarde ditos: “Artes e Humanidades”.
Os maiores títulos de nobreza dos pais de Fernando eram de ordem espiritual, já que os dois professavam uma grande fé, tinham hábitos honestos e eram distinguidos por sua enorme prodigalidade para com os mais necessitados. Fernando herdou essas virtudes dos pais. No que se refere à piedade, cabe salientar sua especial devoção a Nossa Senhora. Desde muito jovem escolheu-a como guia e mãe, visitando com frequência as igrejas e os mosteiros dedicados a Santa Maria.
              Aos 15 anos de idade deixou o Lar Paterno e ingressou na Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, no Mosteiro de São Vicente de Fora que, como o nome indica, estava localizado nos arredores de Lisboa. Ali noviciou, professou e permaneceu durante dois anos. Segundo Azevedo, deixou cinco cruzes traçadas, só com a pressão dos seus dedos, quatro em mármore que se veneram na capela do mesmo Mosteiro e a quinta, traçada num móvel de madeira da sua cela que foi mais tarde levado para o Mosteiro de Mafra.
              Desde bem jovem Fernando estabelecera o seu futuro. Apesar de ter pais exemplares, o mesmo não ocorria no ambiente social da nobreza: a futilidade e o desperdício invadiam palácios e castelos. Decepcionado e desprezando aquela vida, Fernando dobrava o seu tempo de oração e pedia a Nossa Senhora que o iluminasse.
              Em razão da proximidade do mosteiro com a capital, Fernando recebia muitas visitas dos parentes e amigos, que perturbavam a paz que ele havia escolhido. Por este motivo decidiu abandonar aquele local e transferir-se para o mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, sem trocar de ordem religiosa, onde viveu oito anos. Lá continuou a sua formação espiritual e intelectual, com o intuito de viver em Cristo e por Cristo, mas distinguindo-se pela sua admirável acuidade e prodigiosa memória.
              Aos vinte e cinco anos de idade foi ordenado Sacerdote, em Santa Cruz de Coimbra, por D. Estêvão Soares da Silva, Arcebispo de Braga, na ausência de D. Pedro Soares, Prelado Diocesano.
              Decidido, Fernando de Bulhões renunciou à herança paterna e aos títulos nobiliários.
              Em Coimbra, importante centro cultural, Fernando dedicou-se de corpo e alma ao estudo e à oração. Na solidão do claustro, foi informado das particularidades da pobreza e da castidade, segundo a Regra dos Frades Menores, e aí se entregou com empenho à oração e ao estudo. Aprofundou-se na doutrina do grande doutor da igreja, santo Agostinho, e começou a saborear a doçura e a suavidade do Senhor.
              Dedicou a sua aguda inteligência a conhecer mais profundamente as Sagradas Escrituras, que, sendo livros inspirados por Deus, contêm, “a plenitude da sabedoria” - expressão muito usual entre os mestres de teologia da Idade Média. Vale destacar que, na óptica a dos Santos Padres da Igreja, guardava na memória tudo o que lia, levantando a admiração dos monges que o cercavam. Os anos que permaneceu em Coimbra foram determinantes para o conhecimento das ciências sagradas. Consta que os seus progressos eram mais frutos da graça de Deus e de seu esforço pessoal do que do ambiente monacal e do trabalho dos mestres pois, naqueles anos, os monges dos mosteiros andavam demasiado envolvidos nas intrigas políticas do seu país, muito nefastas e cruéis.
              Entretanto chegavam, por solicitude do Príncipe D. Pedro de Portugal, a Santa Cruz de Coimbra, vindas de Marrocos, as relíquias de cinco padres Franciscanos mortos em Marraquexe.
              Fernando, desejoso de seguir o exemplo dos Mártires Franciscanos, e talvez o martírio, pediu transferência para a Ordem Franciscana onde foi recebido com o nome de Frei António, no eremitério de Santo Antão dos Olivais, em Agosto de 1220. Trocou então a alva túnica de Santo Agostinho pela “rude estremenha” franciscana, tendo-lhe sido dado o “hábito” por Fr. João Parente, Ministro Provincial que ocasionalmente se encontrava no eremitério. Ali Frei António professou solenemente segundo as normas monásticas de então.
               Frei António desejava seguir o exemplo de S. Francisco de Assis e por três vezes quis partir para converter os muçulmanos, e três vezes se viu obrigado a desistir.
              Em Novembro, ou princípios de Dezembro, conseguiu finalmente partir para Marrocos em missão de apostolado aos muçulmanos, mas logo que desembarcou nas praias de África, caiu gravemente doente. O cansaço da viagem, e a mudança de clima, provocaram-lhe uma febre que o reteve no leito durante todo o Inverno. Quando, por fim entrou em convalescença, encontrava-se reduzido a um tal estado de fraqueza que, apesar de toda a sua boa vontade, se viu forçado a ceder aos desejos dos seus superiores e preparou-se para voltar à sua terra natal, para aqui poder recuperar a saúde. Na sua viagem para Portugal, o navio em que vinha foi apanhado por uma tempestade no Mediterrâneo e atirado para as costas da Sicília; mas, embora a embarcação se perdesse, ninguém pereceu no naufrágio.
              Parece que foi na Sicília que Frei António iniciou a sua vida apostólica. Assim, dizem alguns: “Em parte alguma, a memória do Santo é tão viva e abençoada como em Nápoles, nem a devoção para com o Santo tão terna como na Sicília”. No Parlamento Geral de Nápoles foi eleito “Padroeiro do Reino da Sicília” a 25 de Maio de 1618. Tendo-se feito nesse ano a 13 de Junho uma procissão solene com uma Estátua de prata do Santo levada debaixo do Pálio. Na base da Estátua lia-se: “ Divus Antonius de Pádua Protector totius Renhi, et Civitatis Neapolis”. Foi este o primeiro acto público de devoção da Cidade ao seu Protector. O glorioso Taumaturgo, Santo António de Lisboa, o Santo de todo o mundo foi pois, oficialmente declarado Patrono e Protector do Reino da Sicília e da Cidade de Nápoles em 1618, sob o título de “Santo António de Pádua”).
              Da Sicília, Frei António partiu para Assis. Assistiu, como incógnito, ao célebre Capítulo Geral da Ordem, dito “das Esteiras”, uma famosa reunião de cinco mil frades.
              Desconhecido de todos, parece até que do Seráfico Patriarca, seguiu a seu pedido, com o Ministro Provincial Fr. Graciano para o Eremitério de Montepaulo. Rogado em Forlívio, a fazer um discurso, revelou-se orador poderoso, pela profundidade de sua doutrina e força de sua eloquência, pelo que foi nomeado «Pregador» da Ordem.
              Depois de permanecer um longo período no Eremitério de Montepaulo frei António começou uma das etapas mais significativas de sua vida como evangelizador popular.
Com a eloquência da sua palavra e o conhecimento da Bíblia e sem a sofística dos hereges, Frei António conseguiu erradicar o mal dos corações dos seus ouvintes, muitos dos quais abjurando os erros decidiram abraçar a fé católica.
No começo encontrou forte resistência por parte dos hereges, que impediam o comparecimento do povo aos seus sermões. E foi assim que, diz a tradição, o santo teve de recorrer à eficiência do milagre. Foi o que aconteceu, por exemplo, na cidade de Rímini, diante da apatia de um público que se negava a escutá-lo. António aproximou-se da praia, do mar Adriático, perto da foz do rio Marecchia, e começou a dirigir-se aos peixes, dizendo-lhes: “Escutem a palavra de Deus, peixes do mar e do rio, já que os hereges não querem escutá-la.

(in Santo António a Freguesia e o Padroeiro)


                            Santo António pregando aos peixinhos

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