A Mulher do Carapau

 


A Mulher do Carapau  

   

Há uns anos atrás numa certa manhã de sábado, desloquei-me ao mercado de frescos Manuel Firmino, acompanhada de uma das minhas filhas e seu respectivo marido, o meu genro mais recente; haviam casado há pouco.

No exterior do recinto do mercado, encontrámos, quando íamos a entrar, uma peixeira com uma carreta a vender carapau muito fresquinho. Ela não podia entrar no mercado porque ali não era permitido vender peixe. Nós apreçámos o peixe e ficámos com a ideia de comprar algum para o almoço, mas só à saída, pois não era muito prático andar a fazer as outras compras com o peixe na mão, além de que se poderia deteriorar com o calor.

Comprámos tudo o que precisávamos o mais rápido possível, e quando saímos procurámos a peixeira. Não a encontrando no lugar onde a viramos antes, demos até uma volta ao mercado, não fosse a senhora ter mudado de sítio, mas dela nem rasto. Como era pouco provável, ela ter vendido todo o peixe que tinha na carreta em tão curto espaço de tempo, o facto de ela ter desaparecido intrigou-nos, pelo que resolvemos perguntar por ela a um polícia que ali se encontrava de serviço.

Fui eu que me dirigi ao agente nos seguintes termos:

Bom dia, senhor guarda. Diga-me, por favor, se por acaso não viu por aqui a mulher do carapau? Nós encontrámo-la à entrada mas agora não sabemos dela.

Ele olhou-me com um ar pensativo, como quem vasculha na memória resposta conveniente, e com um leve sorriso, meio escondido respondeu-me:         

A mulher do carapau? Ó, minha senhora, não sabia que o carapau tinha mulher!

          Já lá vão muitos anos, mas ainda hoje é frequente quando início uma pergunta ao meu genro, ele, sem me deixar completá-la, concluir: ─ Quer saber se vi por aí a mulher do carapau?

          A piada é sempre motivo de riso.

          É claro que o polícia terminou por me dizer, após se desculpar pela graça, que a peixeira tinha ido embora.


             Aida Viegas ( Histórias de Bolso das Gentes de Aveiro)

 

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