Os Patos

 


Os Patos

 

No Verão de 2011 fui passar uns dias de férias a uma localidade onde o Algarve estrema com o Alentejo, na Costa Vicentina. Fazíamos praia naquele recanto maravilhoso que é a praia de Odeceixe. A terra onde estava a casinha acolhedora que alugámos é uma alva povoação atravessada por uma estrada com certo movimento que os naturais chamam de avenida.

Esta Avenida tem, como aliás, todo o lugar, passeios empedrados, passadeiras para os peões devidamente assinaladas com vários semáforos em funcionamento, locais de estacionamento empedrados e devidamente delineados etc...

A povoação tem vários cafés, uma pastelaria e padaria, um minimercado, um posto de abastecimento de combustíveis, uma miniagência de Turismo, aberta em 2012 e um minúsculo mercado municipal, além de outros sinais de modernidade como uma placa a indicar uma Casa de Campo e outra Hotel. Enfim é um lugar pacato airoso, como todos, os do sul do tejo, com as suas modestas casinhas sempre pintadinhas ou caiadas de branco, recortadas num céu azul sem fim. Ali afloram turistas nacionais e aqui e ali, algum estrangeiro, de passagem.

Certa manhã vindo eu em amena cavaqueira com meus netos, avenida fora, com intenção de ir comprar um daqueles saborosos pães alentejanos, cozidos em forno de lenha, deparei com algo de insólito e encantador; um homem, em cuja cabeça os cabelos já branqueavam, com uma enorme e ordeira manada de patos. Estavam todos parados num dos semáforos aguardando o sinal verde para atravessarem a avenida. O homem levava na mão apenas uma varinha fina.

Após o primeiro impacto de assombro perante tal cenário, apressamo-nos para alcançar o inédito pastor com o seu inédito rebanho. Cumprimentámos o senhor que respondeu ao nosso cumprimento sorridente com o seu sotaque característico alentejano. De seguida uma das crianças indagou: - O senhor é que é o dono destes patos? - é verdade, respondeu o homem. - Que bonitos eles são! acrescentou o mais velhito.

E logo eu curiosa: - Então aonde vai com eles? – Passear. Respondeu. Vou levá-los a pastar e depois a tomar banho no ribeiro. - Onde fica o ribeiro? – Além adiante.

- Como eu gostaria de lhes tirar uma fotografia! Mas por azar, não tenho a máquina comigo. O senhor passa aqui com eles todos os dias, por esta hora?

Resposta arrasadora. – Não. Venho só duas vezes por semana às terças e quintas.

- Que pena! Na próxima quinta já cá não estarei e hoje já não temos tempo de voltar para o apanhar no regresso. O homem ia falando e andando sempre, atento ao seu rebanho. Mal o sinal abriu fez um gesto e os patos ordeiramente atravessaram a avenida sem atropelos seguindo passeio fora sem ser necessária a intervenção do dono. 

Mal meu marido nos ouviu contar o nosso encontro, deixou tudo e precipitou-se na direção que lhe dissemos o homem ter seguido, tentando encontrá-lo bem como ao tal ribeiro onde ele disse que se dirigia, mas em vão. Nem patos nem ribeiro, nem o seu guardador avistou e regressou tristonho.

Procurámos o homem dos patos passados dois anos. Fomos bater-lhe à porta para lhe perguntar quando iria passear o seu rebanho. A nossa esperança de voltar a ver aqueles animais ordeiros e disciplinados caiu por terra. O senhor disse-nos que muita gente o vinha procurar pela mesma razão, mas que os patos já não existiam pois haviam-nos matado e comido. 

Comentários

Mensagens populares deste blogue