Nossa Senhora de Vagos
É
tradição que, naufragando junto à Vagueira um navio francez, o capitão apenas
podéra salvar uma imagem de Nossa Senhora que trazia a bordo, e que escondeu
n’uma mata que distava uma légua do mar. Partiu então para a villa de Esgueira,
terra que lhe ficava mais proxima, onde deu parte do succedido ao parocho.
Voltando ambos com outra muita gente á mata, não encontraram a imagem. Estando D.
Sancho I em Vizeu, lhe appareceu em sonhos a Virgem, mandando que lhe
edificasse casa no sitio onde se escondia. O monarcha mandou logo levantar uma
sumptuosa ermida, e perto d’ella uma torre para reparo e defesa dos que a
visitassem. Em 1700 inda existiam as 4 paredes da torre, com 60 palmos de
altura ao defóra da areia, e mostrando pelo fosso que fazia dentro terem
enterrado outro tanto. Hoje ainda restam 2, com 20 a 25 palmos de alto. Para
conservação e fabrica da ermida applicou el-rei muitas rendas. Pouco depois
Estêvão Coelho, fidalgo da serra da Estrella, vendo-se por milagre da Senhora
curado da lepra, lhe doou todas as rendas que possuía no logar de Sandomil, e
que comprára no termo da villa de Vagos. Em 1202 D. Fernando João doou áquella
egreja as terras do couto de S. Romão. N’esse mesmo anno D. Sancho I doou o
sanctuário com todas as suas rendas ao mosteiro de Grijó, que até 1834 as
percebeu. O prior do mosteiro punha n’este sanctuario um religioso da sua casa
com um beneficiado, incumbidos do culto da virgem. Muitos annos depois da sua
fundação se mudou a ermida para meio quarto de legua distante da antiga, que as
areias ameaçavam sepultar, e de que já em 1712 não havia vestigios. Os condes
de Cantanhede, e os senhores de Villa Verde, mandaram construir casas juncto á
capella, para fazerem novena. A capella tem 65 palmos de comprido e vinte de
largo. A imagem é de pedra, com 5, 1/5 palmos de altura.
Antigamente
as freguezias de Souza, Mamarrosa, Covão do Lobo, Mira, Covaes, Oliveira do
Bairro, Troviscal, S. Lourenço do Bairro, Villarinho do Bairro, Oyã, Sangalhos,
Avelãs de Cima e Danços a visitavam processionalmente com sua cruz e parocho.
Inda hoje por esta fórma a visitam, na 1ª oitava do Espirito Santo, os povos de
Cantanhede, em cumprimento de antiquissimo voto. O dia da sua festividade e
romaria é o de Nossa Senhora da Conceição.

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