O Mês do Ramalhete
A emigração para o Brasil que teve o seu ponto alto na
primeira década do século vinte, foi um dos factores que levou muitos homens a partirem
para Terras de Santa Maria, deixando mulher e filhos, muitas vezes, “ao deus
dará”.
Consta que uma dessas mulheres, a Taresa, encontrando-se muito sozinha e meio atrapalhada, com a vida
que não lhe estava a correr de feição… resolveu escrever ao marido pedindo-lhe
insistentemente que viesse com a máxima urgência, pois definhava sem ele. O
homem que ainda nem conseguira, sequer, juntar dinheiro para a viagem de
regresso, ficou em polvorosa, com apelo tão insistente de sua mulher, e
escreveu-lhe, na volta do correio, lastimando-se da falta de proventos para
satisfazer a sua vontade, que afinal ia bem ao encontro da dele, que já andava
cheio de saudades de se poder deitar aconchegado com a sua Taresa.
Prontamente
a mulher, lhe enviou o bastante para cobrir os gastos da viagem, e ainda uns
trocados, para vitualhas.
Com o tempo
gasto na troca de correspondência, os preparos para a viagem, e a viagem em si,
o Manel demorou um bom pedaço mais do
que a Taresa contava. Ela porém era
uma mulher desenrascada, e como tal, conseguiu superar este contratempo.
O seu Manel chegou
entrava Abril e, passado relativamente pouco tempo, sua mulher dava à luz um
robusto rapaz.
Quando após o parto, o marido a foi visitar ao hospital,
admirava-se da criança, com tão pouco tempo de gestação ter vingado, e ser tão
grande e perfeitinha. Mas logo a mulher o tirou de cuidados.
Sabes
lá Manel, como isto por aqui mudou, enquanto
estiveste ausente?! Nem tu imaginas como tudo está diferente, por estas bandas!
É por tudo isto que eu te queria de volta. O país está a evoluir. Vê tu bem que
até o contar dos meses, hoje, já é diverso do modo como os nossos pais nos
ensinaram! Ouve e logo perceberás, porque é que o nosso menino nasceu de tempo
e tão perfeitinho.
Diz lá mulher,
diz lá. Já vi que tudo, por aqui mudou, na verdade.
Pois então, escuta
como são as modernices. Para dizermos os meses do ano já não dizemos, como
antigamente: Janeiro, Fevereiro, Março…nada disso. Agora os meses contam-se
assim:
Abril, Abrilete, e o mês do Ramalhete.
Maio e Maiuco, e o mês em que Canta o Cuco.
S. João, e S. João Brás, e o mês em que nasceu o Rapaz.
Se
contares, temos aqui nove meses certinhos.
E o Manel, abrindo a boca de estupefacção,
com tanta sabedoria da sua Taresa,
concluiu:
Tens razão mulher.
Vê lá bem o que eu tenho andado a perder! E que lindo é o nosso rebento!
Aida Viegas (in Santo António a Freguesia e o Padroeiro)
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