Os Burriqueiros
     Homens, acompanhados do seu burro, que visitavam, sobretudo a Quintã, comprando fruta, mais propriamente laranjas, que iam depois vender à fábrica de refrigerantes, a Cantanhede.
        Oriundos da Ponte de Vagos, os burriqueiros demandavam terras distantes. Muitas vezes dormiam por lá, debaixo de qualquer abrigo. Tinham os seus animais em grande estima porque eles os ajudavam a ganhar a vida. Certo dia morreu um jumento próximo da Cúria atropelado por um comboio e para espanto dos moradores, deram com o dono e os amigos todos a chorarem pelo burro. O animal era de tal ordem que lhe tinham estima como a uma pessoa. Compraram outro, mas esse não chegava aos calcanhares do finado. O dono desse animal, rapaz novo ainda, resolveu, passado algum tempo, emigrar para França, e foi a sorte dele. Lá pela Ponte de Vagos, em todas as casas havia um burro. Os burros para andarem na rua tinham de ter uma licença emitida pela Câmara e caso a não tivessem estava o seu dono sujeito a multa. Muitos desses homens, trabalhadores e poupados, começaram a negociar com um burro mas acabaram por ter um bom automóvel e boas casas.
          O Ti Frio, conhecido pelo “Come e Dorme”, está ainda presente na lembrança de muitas pessoas. Vinha no seu burro e comprava as laranjas caídas no chão que ia depois vender a Aveiro e à Gafanha.
          Também era costume os burriqueiros venderem, porta a porta, não só na freguesia de Santo António mas em Vagos e Ílhavo, pinhas que geralmente iam buscar à Bairrada, trepando agilmente aos pinheiros mais altos. Era comum vê-los por lá com o seu burro, um cão magro e várias crianças, na sua companhia. Pelas ruas dos lugares ouviam-se amiúde gritar: “ À can danado, se me viras a caguincha, levas ca gancha.”
(in Santo António a Freguesia e o Padroeiro)

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