APRESENTAÇÃO de
HISTÓRIAS DE BOLSO DAS GENTES DE AVEIRO

(Prarquem não pode estar presente)
Escrever é um vício benéfico no qual se mergulha e de onde dificilmente se emerge.
O escritor pode criar heróis, vítimas e carrascos, polícias e malfeitores, fadas e bruxas, tornar realidade, factos inimagináveis, viajar pelos lugares mais insólitos levando consigo os leitores, desde que estes consintam em deixar-se transportar no sonho e na quimera, através da verosimilhança. Além do mais, o escritor dispõe de poções mágicas às quais pode deitar mão sempre que lhe aprouver e com elas decidir os destinos das suas personagens.
Foi com estes poderes que me foram conferidos pelos meus colaboradores, que em algumas circunstâncias, os virei de cabeça para baixo, vesti a roupa do avesso, mudei o nome, deles pus e dispus a meu belo prazer. Pese embora toda esta alquimia, espero que todos acabem por se encontrar, no meio da amálgama onde os mergulhei, amassei e moldei de novo. E perdoai se não vos tratei do jeito que gostaríeis, mas isto de lidar com a vida dos outros a nosso belo prazer tem que se lhe diga. Asseguro-vos porém, que muitas vezes, são as próprias personagens que durante o processo da escrita, nos impõem o rumo a seguir.
De qualquer forma, obrigada a quem em 2006/2007, na Feira do livro, sem reservas, me contou as suas histórias. Procurei tratá-las bem.
Quero porém avisar os leitores, que os meus poderes de alquimista e maga, não cessaram quando terminei a escrita. É que este vírus, que nos corrói as entranhas, contagia quem nos lê, por isso, só agora se começa a propagar. Alguém disse, e eu subscrevo, que: “Um livro só está completo após ser lido”. Deixo pois aos que me lerem, a tarefa de completardes o meu trabalho, de propagardes o vírus. E não subestimeis este meu apelo, pois, com os poderes de que fui investida, quando entrei nesta aventura, antes de terminá-la, vaticinei um terrível anátema:
“Quem isto ler, e não o contar, em folha seca, se há-de tornar.”
R…R…R…R…RRRRRR
Vedes, como o vírus se propaga?
Não permitais pois, que o meu feitiço, recaia sobre vós.
Contai aos vossos filhos, aos vossos netos, aos vossos amigos, as histórias que me foram confiadas, e se não tiverdes paciência para contar, oferecei um livro, e dizei que aí está escrito, algo gostoso da vida, para que seja lembrado, lido e contado, sempre que alguém o queira fazer, quando, e quantas vezes entender, ao seu ritmo, ao seu gosto.
Estou ciente, que para todos e para cada um dos protagonistas, estes episódios constituem pedaços de vida, que guardaram como tesouros, mas quiseram partilhar com abnegação, para que não se perdessem, na voracidade dos dias.

Este livro é pois um hino à vida, à vida a cores, desfrutando dos infinitos cambiantes, entre a luz e a sombra, degustando os sabores mais variados, gozando de momentos de calma, de paz, no meio da aceleração constante, e em crescendo, da nossa sociedade. São momentos que nos reportam, aos lugares, aos cheiros da nossa infância, ao rio da nossa aldeia, à mata africana, a vivências que marcaram o nosso quotidiano. Levam-nos através de distintos percursos, degustando a brisa, revisitando espaços e tempos, numa ida ao tabernáculo, onde guardamos ícones sagrados das nossas memórias, num relembrar de afectos, que tocaram as fímbrias da tessitura dos nossos dias.
É no apreciar o voo de uma ave, no olhar o pôr-do-sol, no desfrutar da companhia de alguém, de um acto de camaradagem, de um gesto de carinho e lealdade, que vale a pena viver. Tudo isto, porque a vida é feita de nadas, de curtos instantes, cujo somatório, torna feliz ou infeliz, uma existência.
Espero que todos e cada um dos leitores, encontre reflectida em alguma destas curtas narrativas, que não são mais que retratos “à lá minuta”, da real cultura do nosso povo, sensações análogas a outras já vivenciadas por vós, que vos dêem a ilusão, de serem os seus verdadeiros protagonistas, fazendo-vos reportar, a espaços, ou tempos do vosso encantamento, das vossas memórias, mais gostosas.
Esta leitura é um convite a uma pausa, na corrida desenfreada do presente, ao gozo de um momento de tranquilidade, porque tranquilos, devem ser os nossos dias, e urge contrariar a turbulenta euforia em que vivemos. Estimo que a apreciem, à luz da simplicidade, que atravessa cada uma destas histórias, contadas com tanto carinho, e ouvidas com tanto prazer.
É para compartirdes um pouco desse carinho e do prazer que senti, que vos desafio a escutardes alguém, que certamente vos irá deliciar, como a mim me deliciou.

E peço que venha até mim, a amiga Maria José Sampaio. A Maria José vai contar-nos uma bonita história, que lhe ouvi e se reporta à sua saudosa infância. Escutemo-la.
Agora, chamo a colega e amiga Maria da Graça Nave. A Graça, com a sua graça ímpar vai relatar-nos momentos, parte deles, vividos por quase todos nós, na nossa tenra idade. Ouçamo-la.
Vedes, como é uma delícia ouvi-las?
Penso saldar a dívida que contraí, com quem generosamente comigo colaborou, dando à estampa, nesta edição, pedaços de vida, do pulsar, do sentir, das Simpáticas Gentes de Aveiro.
E para aqueles que desconhecem o percurso desta obra, irei explicá-lo de um modo muito sucinto
Histórias de Bolso das Gentes de Aveiro, é fruto de um projecto que decorreu durante dois anos consecutivos, 2006/2007, na Feira do Livro da cidade onde me apresentei como Ouvidora de Histórias. Da recolha que fiz, seleccionei 78 episódios, que inicialmente foram sendo compilados sob o título, Pingos de Chuva em Terra Seca, título, que no final do trabalho, resolvi mudar.
São momentos fotografados pela lente da emoção, e guardados no álbum das recordações … essência de sentimentos, sensações, estados de alma…

Porque não Pingos de Chuva em Terra Seca, e sim Histórias de Bolso das Gentes de Aveiro?
Pingos de Chuva em Terra Seca, ao caírem, são de imediato absorvidos. Assim eu imaginei a leitura destes episódios.
A decisão de serem Histórias das Gentes de Aveiro, surgiu mais tarde, dado que, o conteúdo, provem, de pessoas muito distintas, quer na idade, quer na ocupação, quer no sentir. Pessoas que ouvi, em Aveiro a minha, a nossa cidade.
Desta forma procurei abranger as Gentes e a Cidade, e prestar-lhes o meu devido preito.

Histórias de bolso, (ou de bolsa quando por vezes o trajo que envergamos é destituído deste pormenor tão cómodo) e repito, Histórias de bolso, porque um bolso é um lugar pequeno, com um espaço confinado e restrito, mas aí podem ser guardadas coisas incríveis, tais como: chaves, um telemóvel, um revólver, uma pedra, um lenço, um anel de noivado, uma caneta, uns óculos, um frasquinho de perfume, enfim, um sem número de inesperados objectos, tão minúsculos como poderosos, atractivos e imprescindíveis, os quais, poderemos daí extrair, no momento mais inesperado, e conveniente. As chaves, poderão abrir valiosas e misteriosas portas, ou pôr a funcionar um carro que nos levará a lugares distantes. O telemóvel, poder-nos-á colocar em comunicação com qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo. O revólver. Sabe-se, lá para o que pode servir! Uma pedra! Ai, uma pedra!... Um lenço, poderá, entre muitas outras utilidades, enxugar nossas, ou alheias lágrimas. Um anel de noivado, com uma pérola rara, ou um diamante de incalculável valor, será sempre portador dum incógnito destino. Uma caneta, poderá servir para assinar uma sentença de morte, escrever um poema, fazer uma declaração de guerra, ou de amor. Uns óculos! Permitir-nos-ão distinguir com nitidez, algo que antes era difuso. Um frasquinho de perfume! Com uma ligeira pressão, na sua tampa, poderá impregnar o ar de indizíveis aromas.
Daqui, ireis levar os bolsos, cheios de histórias. Aí as acomodareis, sem esforço, porque pequenas e maleáveis. E quando vos aprouver, podereis sacá-las, com a facilidade de um gesto, e usá-las como e quando quiserdes. Alguns de vós, deixaram comigo, uma, duas, ou três das vossas histórias, agora todos as podem levar multiplicadas, pois quem semeia, colhe, e por vezes a colheita é tão copiosa, que podemos repartir os seus frutos.
Foi este o milagre que aqui aconteceu.
Amigos. Obrigada a todos, os que colaboraram antes, na sementeira, partilhando, e os que irão colaborar agora, na colheita, lendo, dando a ler, e divulgando Histórias de Bolso das Gentes de Aveiro.
Aveiro a cidade que eu amo.
Como, e porque a amo, ser-nos-á dito pela Claúdia, como só ela sabe dizer.
Como podereis mais tarde constatar, o leque etário dos que comigo colaboraram é francamente extenso, indo dos 18 aos 81 anos. Foi pena que nem todos se tenham querido identificar, mas respeito a decisão de cada um. Pesa-me que alguns não tenham podido estar presentes por razões que os ultrapassaram, mas a vida é assim mesmo.
Peço agora a todos os colaboradores, que puderam estar presentes a gentileza de se levantarem à medida que eu for dizendo os seus nomes, isto para, vos agradecer publicamente, para que vos possa dar a conhecer, e para que todos vos saúdem.
Vou pois, com todo o carinho, chamar por ordem alfabética, os que penso estarem aqui connosco. Se porventura deixar de nomear alguém, por lapso, desde já lhe peço desculpa, e solicito que se apresente, com o mesmo à vontade e gosto, com que se apresentou na Feira do livro, para eu o ouvir.
E passo a chamar:
1 – Agostinho da Conceição Natário
2 – Fernando Loureiro
3 – João Batista Julião
4 – João Pereira Lemos
5 – José António Feliciano
6 – José Manuel Cachim
7 – Lindonor Silveirinha
8 – Maria Cândida Gil
9 – Maria dos Anjos Peixinho
10 – Maria Clara Barroca
11 – Maria da Graça Nave
12 – Maria Luísa Carmona
13 – Maria Leonor Casimiro
14 – Maria José Sampaio
15 – Maria de Jesus
16 – Maria Manta
17 – Maria Noémia Borrego
18 – Maria Regina
19 – Teresa Albuquerque

A singela flor que vos ofereço é símbolo de todo o meu apreço e carinho.
Muito obrigada pela vossa simpática colaboração.
Para todos estes exímios contadores de Histórias peço uma calorosa salva de palmas.

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